E ela voava pelo céu sem sentido, numa tentativa de
encontrar a outra parte de si. Aquela outra metade que responderia a todas as
suas questões. Nos amanheceres das manhas frias ela embrulhava-se na velha manta com cheiro a hortelã e ficava à janela a observar a vida que corria pelas
ruas escorregadias do frio inverno. Fantasiava com todos os seus sonhos. Por
vezes, com a pontinha do dedo já meio gelado desenhava toda uma vida na janela embaciada.
Perdia-se durante horas e horas naquele mundo que só ela tinha permissão para
entrar.
Era uma sonhadora. Sonhava com tudo e com nada, com alguma coisa e com
coisa alguma.
As suas asas eram do tamanho de meio mundo, a sua força e a
sua perspicácia faziam-na crer que o amanhã era sempre melhor que aquele
presente sonhador. A sua fé era surpreendente, um exemplo. O seu interior
doente jamais, em tempo algum, fez com que o seu sorriso desaparecesse.
E,
apesar da sua fraqueza como ser humano, tudo era motivo para despertar um
pequeno sorriso.
Os dias passaram, as horas
correram e infelizmente os astros não estavam conjugados para que tudo desse
certo. Infelizmente a vida não lhe sorriu. Ela parecia tão forte por vezes… mas
todos sabíamos que não aparentava a mesma coisa.
E mesmo com desfeita que a vida lhe fez, pelo menos ela tentou
todos os dias da sua vida.
Naquela janela fica o reflexo daquela que voava e
sonhava mesmo quando tudo parecia frio e cinza. E mesmo com a sua partida,
mesmo sabendo que a parte que lhe iria dar todas as respostas continua deste
lado de cá, pelo menos de uma coisa eu sei, ela continua aqui, presente.
Esperando o reencontro, esperando uma nova oportunidade. Um outro dia, um dia melhor.
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