sábado, 20 de outubro de 2012

E assim disse ela...

Os gestos ingénuos que ele tinha contigo agora misturam-se com a crueldade dos seus actos. Sempre confiaste nas pessoas erradas, sempre te julgas-te apta a definir o certo do errado, mas pecas-te ao confiar demais nas palavras de um misterioso rapaz. Ele veio para te trazer a experiência que tu precisas, esta lição será dolorosa o bastante para que tu tenhas medo de reagir. O pouco que sobrou de ti foi arrasado.
Dos amigos que eu nunca confiei, dos amigos que tu confias, as minhas palavras não são provas mas relatos a serem mostrados num futuro próximo. Eu sei muito bem o que vai acontecer, ou talvez esteja apenas a julgar antecipadamente, mas os olhos daquele rapaz jamais me enganaram, eles traduziam o teu consolo temporário e a tua derrota definitiva. 
Quiseste crer nesse amor instantâneo, quiseste acreditar na bondade alheia e na forma como ela te poderia reconstruir desse mal passado. Entregaste-te de corpo e alma e de corpo e alma te destroçaram, te usaram. Eu avisei-te, chamei-te atenção tantas e tantas vezes. Vês a tua teimosia? Viste como deu errado de novo? Agora vá... chora todo esse mal. Descarrega toda essa desilusão. Está outra vez na hora de te recompores. E não penses que será impossível, basta lembrares-te do teu passado. Aquele outro que te magoou também. E toda essa crueldade que cometeram contigo, todos esses maltratos a que te submetes-te, não te preocupes um dia lembrar-te-às deles como boas lições. 
Então agora respira fundo, enxuga essas lágrimas e prossegue. O tempo será o teu remédio.
Mas não te esqueças, esse rapaz jamais te mereceu. Esse rapaz minha querida, não era rapaz suficiente para ti. 





domingo, 14 de outubro de 2012

Intenções


Há tempos que estavas fechado. Guardado para algo melhor, algo que no fim de todas as tempestades me fosse mostrar que nem tudo na vida está destinado a ser um fracasso. Estavas quieto no teu canto à espera que todas as memórias permanecessem mortas, acabadas, findadas. Selei-te com carinho, aconcheguei-te o melhor que pude. Fiz tudo com o maior cuidado, com o maior percalço, com a melhor das intenções. Queria o teu bem. A tua paz. Sei que te fiz infeliz durante imenso tempo. Sei que te fiz atingir o limite. 
Estilhacei-te, quebrei-te, magoei-te das piores formas que o podia fazer. Magoei-te magoando-me a mim própria. Hoje peço-te perdão, pois mais uma vez voltei a ser cruel contigo. Voltei a ser egoísta, voltei a colocar as minhas emoções acima de ti. Como posso eu ser este mostro, esta pessoa incoerente? Como posso eu, depois de tudo, de todo aquele mal-estar que te fiz passar, de toda aquela dor, voltar a cometer o mesmo erro? Que autonomia tenho eu para te fazer passar mais uma vez por este drama? Não tenho, nem nunca tive. Peço-te perdão pela falta de respeito, pela falta de consideração, pela falta de amor por ti. Desculpa se por momentos tentei esquecer aquele passado. Talvez foi por pensar que tudo poderia dar certo, que tentei apostar mais uma vez. Pensei: “ - se eu nunca tentar, eu nunca saberei”. Mas eu esqueci-me que já tinha feito a minha aposta uma vez. Esqueci-me que já tinha tentado uma vez. E não sei como, por momentos esqueci o quão doloroso foi ter perdido aquela aposta, esqueci-me o quão dolorosa aquela tentativa foi. O quanto magoada e desfigurada ela me deixou. Por isso peço-te perdão, um perdão difícil de conceder. Sei que nunca vou conseguir substituir este mal que te faço, esta crueldade que cometo contigo. Por mais que tente volto sempre a magoar-te, a magoar-me. Perdoa-me, pois nunca vou conseguir curar-te. Perdoa-me, por seres meu. Perdoa-me coração, para eu conseguir me perdoar também.  



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lágrimas


Sabes aquela lágrima que tu derramas-te ontem à noite antes de adormecer? Lembras-te do motivo? É difícil não é? Sofrer tanto assim por alguém que amas e que, provavelmente, não te liga nem um pouco. A tua vida é complicada, é difícil, mais do que qualquer um possa imaginar. Todos os dias tens que colocar no rosto aquele sorriso lindo que tu tens só para esconder as tuas lágrimas. E toda a vez que tu entras no chuveiro é só para poder desabafar e colocar para fora todas aquelas lágrimas que seguras-te o dia inteiro. Podes tentar evitar ao máximo possível, mas tu sabes que quando te fores deitar é nele e na confusão da tua vida que tu vais pensar. Podes chorar querida, não é um erro, é uma necessidade. Precisas colocar para fora toda essa dor que já te causaram. Estás a ser forte guardando tudo isso só para ti, nunca te julgues fraca, porque não o és. E eu sei, e tu sabes, e todas as mulheres do mundo sabem como é sentir essa sensação, essa dor. Apenas continua a ser forte. Apenas isso. Um dia essa dor passa. Um dia vai passar. 



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Desordens


O importante é que ontem não chorei. Tive coragem de aceitar a pior das hipóteses, a hipótese mais correcta. O melhor. Não pensei duas vezes, não parei uma única vez. À medida que andava parecia que expulsava a raiva que há muito continha aqui dentro. Foi como se todas as partes cortadas da história viessem ao de cimo. Todos os porquês me passaram no pensamento, não podia continuar a torturar-me. Não me podia sujeitar a mais uma dor. Então fui, com toda a vontade do mundo, fui. A história estava-se a repetir, parecia um déjà vu, e desta vez parecia torna-se pior a cada segundo que passava. Não ia cair nesta teia de agonia. Não ia ser tão masoquista a esse ponto. Então segui sem olhar uma única vez para trás. Quando dói, dói só uma vez. É o suficiente, é o quanto basta. São coisas que não se entendem, desordens que não se arrumam. E quando tudo está mal, é quando tudo tem tendência a piorar. Mas eu não me encaixo neste cenário, neste emaranhado de sentimentos, nesta confusão de confusões. Quando tudo está mal é quando eu desisto. Então eu desisti de tudo o que havia para desistir. Não por querer, mas sim porque tinha de ser. Era o mínimo que podia fazer por mim. Porque quando dói, só dói uma vez. E se há coisa impossível de se fazer é esquecer uma dor. Porque quando dói, dói para toda a vida.






Seguidores