Gostava de entender
esta máquina. Perceber a utilidade das suas peças, aprender a desmontá-la e a
montá-la sempre que quisesse. Desenhar-lhe um manual de instruções, talvez
assim tudo fosse menos complicado. Gostava de a desligar. Por um dia, um mês,
um ano. O tempo suficiente para que eu criasse coragem de a ligar. Coragem de a
manusear e entender a sua configuração.
Mas que
posso eu fazer? Não existe nenhum sistema operativo que se adeque à minha
máquina, ao meu ser. Não existe vontade maior que esta de querer olhar teimosamente
para além do que vejo. Não existe. E esse é o problema: a falta de existência. Porque
por mais que tentemos, às vezes certas peças não encaixam. Às vezes certas
peças não existem. E sem peças dificilmente se constrói máquina alguma. Por uns
tempos até acredito que ela possa funcionar, mas a falta de peças fará com que
a sua existência diminua dia após dia, até fazer a máquina parar. Deixando de
haver qualquer tipo de solução. Qualquer tipo de remendo.
Então a máquina
para. E tudo o que ela produzia ou tentava produzir, para com ela. Esgotasse de
tal maneira que o único remédio seria comprar uma máquina nova. Renovar. Mas eu
não sei trabalhar com máquinas. Eu não sou nenhuma máquina. E como tal, o
melhor é mudar de ofício.