sexta-feira, 17 de maio de 2013

Disposições


Trazes contigo perigosas borboletas que me tentam picar com as suas doses de expectativas, sinceras ou não todos os dias elas me encantam, todos os dias elas conquistam um pouco mais de mim. Trazes para o meu mundo o desassossego que há muito ele necessitava, a diferença tão igual que vista de fora parece um nada e um tudo. Agitas os meus risos e fazes aflorar no meu estômago aquele friozinho ridículo de quem já sorri somente por sorrir. Não penses que não gosto. Gosto! Apenas me incomoda esta sensação. 
Incomoda-me a voz da minha consciência que todos os dias me pergunta: "Até quando durará?" - pergunta esta que me faz sempre que o inesperado me tenta conquistar, sempre que as constelações se unem para de algum modo me agradar. É estranho. É estranho toda esta conjuntura de boas ondas, as marés raramente me dão tréguas, raramente rumam a meu favor. 
Todos dos dias sorriu um pouco mais, e todos os dias me deixo surpreender um pouco mais também. Cuidado, olha que não sou menina de confiar em marés. 
Revolto-me com esta boa disposição, com estas novidades risonhas que de tão inesperadas que são me fazem andar mais bem disposta. Sim, estou a deixar o meu mau feitio de parte. 
Começo achar o destino um bipolar de primeira, sempre a passar-me a perna quando menos espero. Coloca-me no caminho situações com as quais já não sei lidar, e quase que aposto que tudo não passa de uma tentativa para me pôr à prova mais uma vez. À prova de tudo aquilo que um dia me sugou. Ou tentou sugar.
Mas eu não sei o que fazer com estas comichões, não sei como vou lidar com estas teimosas borboletas que tentar forjar o meu ego! Não sei nada de nada, mas sei um pouco de tudo. 
É por isso que lanço as minhas cartas ao tempo, ele que decida o que fazer com os meus pensamentos, com os meus quereres, há muito que os soltei ao vento na esperança que eles encontrassem o seu destino. 
Hoje só me resta dormir e culpar as estrelas, há muito tempo que não me sentia tão bem. :)

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pequenas felicidades


Houve um tempo em que abria a minha janela sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim que se aparentava quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Porém todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, atirava sobre as plantas algumas gotas de água. Não era uma rega: era uma espécie de um borrifo ritual, para que o jardim não morresse. Eu olhava para as plantas, para o homem, e para as gotas de água que caíam dos seus dedos magros, e não sei como nem porquê mas nesse momento o meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e são várias as plantas que encontro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas, feias. Por vezes avisto crianças que vão para a escola e pardais que pulam de muro em muro. Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar. Às vezes, um galo canta. E às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu, nestaa poucas vezes, sinto-me completamente feliz.
Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que estas coisas não existem, e outros que só existem diante das minhas janelas. Por fim ainda existe quem, finalmente, me diz que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim, lindas, perfeitas, únicas. 
D.M.



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