terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sortes


Ela vagueia por todos os lugares, por todos os mundos possíveis e imaginários que a tão magoada alma dela cria. Ancorada naquele remorso que a tanto faz estremecer, ela revira todos os lugares do seu sub-consciente na esperança que este lhe traga à deriva respostas. O seu dia-a-dia é uma luta diária de queres e fazeres que a possuem nos momentos mais inesperados. O monstro que agora habita nela, liberta dentro de si organismos perigosos que a alteram, desmembrando-a pouco a pouco. As suas defesas aprisionadas estão naquela nostalgia que lhe suga o peito, fazendo de um certo modo doerem-lhe as forças. Ela própria não sabe se a dor que sente a cravar-lhe as veias é dolorosa ou extremamente prazerosa. Não sabe se gosta ou se simplesmente não se importa. Tudo à sua volta parece amedrontar todos os seus gestos. Tudo o que ela acredita ou pensava acreditar torna-se agora alvo de pequenas súplicas. Favores e desejos que esta, interminavelmente, suplica e pede que se concretizem. O desespero corre-lhe na alma, como a tristeza no rosto. O seu chão de tão móvel que se encontra, cria buracos de refúgio, onde esta por vezes, por longos períodos de tempo, se refugia e parece descansar. Pelo menos tentar fazê-lo. Tudo corre e os milésimos de segundo parecem ser cada vez mais curtos. Torna-se tudo um ciclo vicioso impossível de lhe atribuir qualquer forma de desprezo. São já vastos os socos mal avisados que esta leva por baixo daquele abdómen tão massacrado. Já nem a leveza, nem a astúcia das manhãs a fazem crer em qualquer tipo de esperança. Ela começou agora a testemunhar actos desumanos e cruéis. Actos insólitos, que sem merecer, cometem com ela. E a raiva, o desgosto, o desespero e até mesmo a sede de vingança começam-se a conjugar dentro de si. Não há volta a dar, o seu ser fora aniquilado por esse masoquismo humano. Conseguirá a sua alma sobreviver? Ou o seu corpo tornar-se-à um esqueleto intacto de afectos? Coração seco e amargurado em corpo e alma que outrora foram capazes de seguir. Pois é, a vida tem as suas sortes. 

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