Adorava conseguir-me expressar, libertar destes inúmeros
pensamentos que me rodam na cabeça. São tantas as maneiras com que o tento fazer...
Já perdi a conta às vezes que tentei expulsar este negativismo dentro de mim. O
facto é, o mundo e as pessoas que habitam nele vão sempre arranjar formas de
nos partirem o coração. Eu sempre soube disso e por vezes senti na pele as
picadas desta afirmação.
Acontece que agora é diferente, agora não são só meras
picadas, é um aglomerado de coisas más que juntas parecem querer-me sufocar.
Sufocam tudo em mim, a minha maneira de querer viver, os meus pensamentos, os
meus desejos, as minhas dores. Não sei mais a que mundo pertenço.
Deixo-me
sufocar por este rancor e aos poucos enterro-me neste sentimento mau que me
preenche. Não sei como me deixei afectar de tal maneira, nem como me deixei
derrotar por algo que nem merece a minha compaixão. Pela minha alma que juro
jamais querer fazer destas vontades actos certos, mas por ela também juro que
metade do tempo não é isto que penso. Em que esquema caí eu? Pareço um circo
bipolar, pareço uma maníaca? Foda-se, quebraram-me o coração,a alma, o meu
sistema.
Se algum dia pensei eu que jamais iria saber o significado da palavra
ódio, hoje refaço essa questão. Dos meus poros expele uma raiva crucial, uma
revolta aterrorizante, chegando mesmo assustar. Eu própria vivo assustada com o
que sinto dentro de mim.
E se outrora fui incapaz de desejar o mal, ou até mesmo de o
praticar, hoje desejo-o com todas as minhas forças, e ao desejá-lo sei que o
estou a praticar. Que as forças divinas me ajudem, eu nunca fui assim.
Nunca me vi assim. Será por isso que esta nuvem de azar resolveu descarregar em
mim? Digam-me, que mais posso eu fazer além de alimentar estes maus quereres?
Esquecer, deixar para trás, ignorar, desprezar… já dizia o outro, “tretas”! Quando nos cravam a dignidade, cravam-nos a alma e todo o nosso ser, esquecer
está para lá das minhas capacidades. Sonho com o dia em que acordo e tudo não passará
de uma pequena lembrança, apenas uma má recordação. Sonho com o dia em que
voltarei a trazer no peito a sensação de alívio, aquela sensação que eu sentia
quando era eu mesma.
A minha consciência permanece tranquila, porém carrego em
mim esta culpa, culpa de me estar a mutilar aos poucos, a desgastar com esta obsessão,
a matar com este sentimento sombrio que plantei em mim. Já tentei explicar o quanto louca me sinto, mas sinto que todos parecem tão ou mais loucos que eu. Se ao menos me deixassem seguir, se ao menos se esquecem de mim, se por breves
segundos eu não tivesse nada nem ninguém para me atormentar com este erro, este
descuido que eu tão cegamente cometi...
Rezo para que estas vozes se calem.
Esforço-me para voltar a ser eu mesma, sem este medo e esta raiva que me
perseguem.
No fundo, sei que dentro de mim permanece a verdade e todas as
coisas boas que fizeram de mim aquilo que sou hoje. Só peço que na balança das sentenças o meu rancor, o mal que me fizeram e todos estes pensamentos que carrego, equilibrem com a pessoa que eu sempre fui, sou e serei. Por isso, perdoem-me... por estar a ser tão fraca e ao
mesmo tempo tão forte.
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