quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pequenas felicidades


Houve um tempo em que abria a minha janela sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim que se aparentava quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Porém todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, atirava sobre as plantas algumas gotas de água. Não era uma rega: era uma espécie de um borrifo ritual, para que o jardim não morresse. Eu olhava para as plantas, para o homem, e para as gotas de água que caíam dos seus dedos magros, e não sei como nem porquê mas nesse momento o meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e são várias as plantas que encontro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas, feias. Por vezes avisto crianças que vão para a escola e pardais que pulam de muro em muro. Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar. Às vezes, um galo canta. E às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu, nestaa poucas vezes, sinto-me completamente feliz.
Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que estas coisas não existem, e outros que só existem diante das minhas janelas. Por fim ainda existe quem, finalmente, me diz que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim, lindas, perfeitas, únicas. 
D.M.



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