segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mutilação

Quando a conheci pela primeira vez ela mostrava uma enorme vontade de viver, um desejo insaciável de experimentar todas as sensações deste mundo. A garra que tinha, a vontade de viver que transparecia nos seus olhos era apaixonante. Era uma outra com certeza. Mas aos poucos, sem dar conta, tudo mudou. Desde aquele dia, em que ela sentiu pela primeira vez o beliscar da solidão. Desde esse dia nunca mais foi a mesma, desde esse dia que alimenta a fera que lhe roubou a dignidade. Ela sabe que tudo à sua volta está um caos. Os abusos que comete são escabrosos e a raiva que ela carrega dentro de si, aos poucos a esta a desmembrar. O seu íntimo está magoado, a sua alma de tantos tombos que deu encontra-se ali, perdida. A sua confiança abandonou-a e a esperança que ela mantinha foi-se. Assim como ela. Ela não é mais a mesma e todos sabem disso. Ela própria o sabe.
Os seus olhos carregam uma mágoa angustiante, o seu coração um desgosto que está muito longe de ser curado. O desejo de vingança é visível, a vontade de matar todos esses fantasmas que o destino lhe trouxe é assustadora. Mas ninguém entende. Todos pensam que ela se encontra cravada neste meio incorrecto e vicioso. Não! Ela sabe de cor todos os maus actos que cometeu e comete. Sabe as consequências das suas atitudes e ela própria está disposta a carregar esse fardo. Ninguém entende, mas ela precisa desta sentença. Ela precisa desta auto mutilação que ela está a cometer consigo mesma. É necessário que ela cometa todos estes maus tratos. São eles que lhe alimentam o seu ego desvanecido.
A vontade de querer mudar escorre-lhe pelo rosto. É desesperante observar toda esta angústia. Tão triste e injusta. Mas ela sabe que está errada. Sabe. Mas, de momento, já nada lhe importa. Apesar desta ruína em que se encontra, no fundo ela está a aprender a viver. Uma vida que só agora descobriu. De um modo que, apesar de errado, é necessário viver. A verdade é que ela tornou-se uma pessoa ávida, incapaz de acreditar em segundas oportunidades. Os seus medos e as suas dúvidas são os seus maiores culpados, mas até eles são injustamente julgados. Ela sabe que quer e que tem de mudar. No fundo ela é como todas nós, mulher.






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