segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Essência

Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem os lábios tão amargos. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas, eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil. Percebi que não sou mais a mesma rapariga. Afinal ninguém permanece exactamente o mesmo por muito tempo. As circunstâncias e o quotidiano transformam-nos. Transformaram-me. Mas eu sei que a essência continua em algum lugar. Pergunto-me de vez em quando em que espelho ficou perdida a minha alma, ou onde a posso encontrar… A verdade é que estou a gostar das coisas que andaram a nascer dentro de mim. Um pouco menos mole, menos tola, mais directa, mais esperta. Gosto de coisas que não gostava e odeio coisas que amava. Eu não sou assim por pura rebeldia ou porque os meus pais me deram essa educação. E nem porque quero! A realidade é que o mundo me tornou assim. São anos de batalha. Contra mim. Contra o mundo e contra tudo o que me quis tornar assim. Eu tentei, juro que tentei. Até criei uma espécie de muralha que me isolasse de tudo isso, pena que tenha sido em vão. Eu até fui forte por uns tempos, mas como ninguém consegue ser forte o tempo inteiro, comigo não foi diferente. E quando me atingiram, foi como se nada mais pudesse me afastar dessas coisas. Fui tomada por tudo, tudo que há de ruim lá fora. O que há de mau nas pessoas, até o brilho do sol tem tom agressivo agora. A única coisa que me resta, não intacta, mas ainda que é meu, e que ninguém nunca vai poder roubar ou mudar as configurações, é o meu coração. O único que mesmo quebrado não perde sua essência.




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