Há tempos que estavas fechado. Guardado para algo melhor,
algo que no fim de todas as tempestades me fosse mostrar que nem tudo na vida
está destinado a ser um fracasso. Estavas quieto no teu canto à espera que
todas as memórias permanecessem mortas, acabadas, findadas. Selei-te com
carinho, aconcheguei-te o melhor que pude. Fiz tudo com o maior cuidado, com o
maior percalço, com a melhor das intenções. Queria o teu bem. A tua paz. Sei
que te fiz infeliz durante imenso tempo. Sei que te fiz atingir o limite.
Estilhacei-te,
quebrei-te, magoei-te das piores formas que o podia fazer. Magoei-te
magoando-me a mim própria. Hoje peço-te perdão, pois mais uma vez voltei a ser
cruel contigo. Voltei a ser egoísta, voltei a colocar as minhas emoções acima
de ti. Como posso eu ser este mostro, esta pessoa incoerente? Como posso eu,
depois de tudo, de todo aquele mal-estar que te fiz passar, de toda aquela dor,
voltar a cometer o mesmo erro? Que autonomia tenho eu para te fazer passar mais
uma vez por este drama? Não tenho, nem nunca tive. Peço-te perdão pela falta de
respeito, pela falta de consideração, pela falta de amor por ti. Desculpa se
por momentos tentei esquecer aquele passado. Talvez foi por pensar que tudo
poderia dar certo, que tentei apostar mais uma vez. Pensei: “ - se eu nunca
tentar, eu nunca saberei”. Mas eu esqueci-me que já tinha feito a minha aposta
uma vez. Esqueci-me que já tinha tentado uma vez. E não sei como, por momentos esqueci
o quão doloroso foi ter perdido aquela aposta, esqueci-me o quão dolorosa
aquela tentativa foi. O quanto magoada e desfigurada ela me deixou. Por isso
peço-te perdão, um perdão difícil de conceder. Sei que nunca vou conseguir
substituir este mal que te faço, esta crueldade que cometo contigo. Por mais
que tente volto sempre a magoar-te, a magoar-me. Perdoa-me, pois nunca vou
conseguir curar-te. Perdoa-me, por seres meu. Perdoa-me coração, para eu
conseguir me perdoar também.
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